Todos os dias quando chego ao escritório, a primeira coisa que eu sempre faço, é olhar para a mesa dela.
Era amedrontador imaginar que a presença daquela mulher me afetava tanto.
A coisa ficou mais complicada, quando que, por decreto da empresa, nossos departamentos estreitaram comunicações. E todo dia, ao levar os malditos relatórios de empreendimentos, manifestava aqueles sintomas.Era amedrontador imaginar que a presença daquela mulher me afetava tanto.
Começava com o suor frio. Podia sentir a gota gelada descendo pela minha testa, caindo pelo meu rosto. Em seguida, um frio na barriga, algo incomodo, que não tem a ver com dor, mas com o simples receio de estar ali. As pernas começavam a tremer. Tudo que eu podia fazer, era entregar os papéis o mais rápido possível e dizer:
- Bom dia Cecília!
E durante oito meses, isso foi tudo que eu fiz.
Porém aquele dia era especial, tinha resolvido me declarar, e a chamar para sair. Tudo que eu tinha de fazer era caminhar em sua direção e dizer o que sentia de verdade. Sabia que tinha coragem suficiente para isso, e consegui me convencer. Se não me declarasse, me sentiria culpado simplesmente por não saber o resultado. Tinha de tentar, e naquele mesmo dia.
Depois do almoço, em um horário em que quase ninguém estava no local, olhei para a frente e lá estava ela, sozinha na maquina de café. Achando que essa foi a melhor oportunidade que poderia ter aparecido, começo a caminhar em sua direção. Coisas do passado começam a passar pela minha cabeça, como em um filme, coisas que não gosto de lembrar...
Cotia 28 de Fevereiro de 1994 – 09h35min h
Carol é a garota mais linda da sala. Assim foi decidido por votação por todos os meninos do terceiro ano, e por mim também. Todos os dias na hora do recreio, eu ficava observando aquela garota loira, imaginando se a gente poderia ver o por do Sol em cima do muro do terreno baldio, na rua do português. Depois eu pegaria em sua mão e a beijaria.
Decidi que depois do hino cantado no pátio, a convidaria para passear comigo. Eu gostava dela desde a segunda série. Enquanto imaginava as várias possibilidades, cheguei à conclusão que tinha de me declarar, mesmo se levasse um fora. No fundo eu não tinha nada a perder, e não saber era pior.
Cheguei mais cedo, fui com a roupa mais bonita que eu tinha, ensaiei várias vezes. Achava-me preparado. Até o fim da tarde, meu coração dizia que estaríamos de mão dadas em cima do muro da rua do português.
Na hora do intervalo, apesar de demora, não foi difícil encontrá-la. Estava na cantina comprando doces. Esse era o momento oportuno, estava sozinha. Arrumei coragem e comecei caminhar em sua direção.
Nesse mesmo instante, aquelas sensações estranhas começaram a acontecer pela primeira vez; Meu suor estava gelado, meu coração queria pular do meu peito e as pernas ficaram tão bambas, que achei que ia cair.
Tudo ao mesmo tempo.
Tudo ao mesmo tempo.
Quando estava bem próximo, juntei todas a coragem do mundo e disse:
- Me empresta o catchup?
São Paulo 15 de Fevereiro de 2012 – 11h46min h
E lá estava ela. A coisa mais bela e fantástica que existia no planeta. Cada movimento, como pegar um copo, um talher, era para mim como a sincronia de um balé. Eu a desejava, sabia que tinha uma chance e mesmo com todas as coisas que começava a sentir enquanto caminhava, não deixei de ir em frente. Fiquei com ódio ao lembrar que toda vez que me aproximava de uma mulher, da qual eu não era apaixonado, me comportava como um verdadeiro Don Ruan. Mas toda vez que me apaixonava, ao tentar me aproximar, sempre me sentia e comportava como um verdadeiro idiota. Precisava me livrar desse pensamento...comecei a andar.
Enquanto me movia, atento para a não perder de vista, me lembrava dos meses de preparação, da terapia, dos vários livros de auto-ajuda e até dos estudos sobre comportamento humano. Dessa vez, eu estava preparado, pronto para aquele estágio, e me sentia confiante...chega de fracassar.
Caminhando, senti a gota descendo, ignorei o fato. Sabia que as palpitações seriam as próximas sensações e também não me concentrei nisso. Eu estava conseguindo, os passos ainda estavam confiantes... mesmo com uma ligeira tremida no joelho, procurei não vacilar e continuei andando.
Parei em sua frente.
Olhei seus olhos, e com todo o sentimento que inundava meu coração naquele momento eu disse: